segunda-feira, 29 de outubro de 2012

DM: Sociedade paralisada, a economia "acelerada"

Em seu moderno Cadilac preto, o embaixador norte-americano Charles Elbrick era conduzido por seu motorista português tranquilamente pelas ruas do bairro de Botafogo, rumo à Embaixada dos Estados Unidos, logo depois do almoço. Sem que soubesse, militantes do grupo armado MR-8 o aguardavam desde cedo na Rua Marques, prontos para dar o bote. De repente, quando o carro oficial dobrou uma curva foi fechado imediatamente por dois Fuscas, dos quais saíram três homens armados prontamente posicionados para render o alvo, que nada pôde fazer para resistir.

Após percorrerem alguns quarteirões, os militantes abandonaram no Cadilac o motorista e uma carta, endereçada às autoridades do regime militar, exigindo a soltura de 15 presos políticos, os quais seriam trocados pelo embaixador. Esses prisioneiros, após serem soltos, deveriam ter a liberdade de partir para o exílio no México, sem qualquer intervenção das forças autoritárias. Era a primeira vez na América Latina que um diplomata era seqüestrado por razões políticas.
“Por favor, preciso de um telefone: seqüestraram o Embaixador”, disse Custódio Abel, o motorista, ao entrar desesperado na primeira casa que encontrara, depois de os Fuscas terem seguirem adiante, levando o seu patrão. Imediatamente o motorista comunicou o ocorrido à polícia, a qual iniciou, sem sucesso, uma investigação para detectar os autores do atentado e prendê-los imediatamente.
Nos Estados Unidos o Presidente Richard Nixon se reuniu com o seu Secretário de Estado para traçar metas do seu plano de ação. Traçado o plano, as autoridades americanas colocaram-no imediatamente em prática: pressionar ao máximo o governo brasileiro para que todas as exigências dos seqüestradores fossem atendidas. Os militares, assim, não tiveram escolha. Em três dias, os 15 jovens, presos arbitrariamente pelo regime, foram soltos pela polícia que, em troca, recebeu são e salvo o embaixador.
O  seqüestro, apesar de ter sido um ato de extrema violência, foi a única forma que os jovens encontraram de soltar seus colegas que tinham sido perseguidos e presos pela polícia militar, sem direito à defesa. Vale lembrar que nesta época a sociedade brasileira era regida pelo AI-5, o qual, por um decreto em 1968, suspendera o Habeas Corpus, instaurara a Censura aos meios de comunicação, e fechara o Congresso Nacional.

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